Há
quase dois anos atrás, mais precisamente no dia 24/07/2010, o técnico Mano
Menezes anunciava, via assessoria de imprensa, que havia aceitado o convite da
CBF para ser o novo técnico da seleção brasileira principal. Às vésperas da
final olímpica em Londres, na qual o Brasil tem a chance de conquistar pela
primeira vez a medalha de ouro e Mano Menezes a oportunidade de marcar seu nome
pra sempre na história do futebol brasileiro, vejo um momento propício para
fazer alguns apontamentos sobre o trabalho do treinador.
Quando assumiu o cargo, Mano sabia que teria a missão de promover uma grande renovação na seleção. Dunga, seu antecessor, havia realizado um bom trabalho, mas não deixou uma base de jogadores capazes de protagonizar na Copa de 2014. Assim, sua trajetória foi marcada pelo teste de muitos jogadores com a finalidade de encontrar um time que passasse confiança para a disputa de torneios importantes.
No
começo ele até que foi bem. Suas primeiras convocações contavam com uma mescla
de jogadores experientes - como Lúcio, Robinho e Daniel Alves - e jovens que
haviam despontado com possibilidade de estarem presentes na copa de 2010 – como
Neymar e Ganso. A receita deu certo, mas ainda não era a ideal para o objetivo
2014. Com isso, muitos foram os chamados para testes. Mano apresentou “um
leque” de jogadores ao Brasil: desde esquecidos no velho continente até aqueles
sempre lembrados pelos clubes do Brasil, mas pouco aproveitados na seleção. Nas
listas seguintes, havia nomes como Jádson, Luiz Gustavo, Renato Augusto,
Hernanes, Jucilei, Elias, Douglas Costa, William, Nilmar, Jonas, Rafael,
Adriano e André Santos. Sobrou espaço até para o retorno de Ronaldinho Gaúcho e
para as chances de Mariano e Cortez.
Apesar
de todos reconhecerem que era necessário avaliar muitos jogadores para
conseguir obter êxito na renovação, o treinador foi muito criticado pela demora
em estabelecer um time base. Passava-se mais de um ano a frente da seleção e
ninguém sabia ao certo sequer quem eram os 11 titulares de Mano Menezes. E mais,
quando um jogador fazia uma ótima partida no primeiro tempo de jogo, Mano
tirava-o no intervalo (caso de Jádson na Copa América). Muito se falou que isso
só atrapalhava uma boa sequência dos jogadores e da seleção, pois era preciso
que os jovens ganhassem confiança para se consolidarem. Pra piorar, o
desempenho do Brasil na Copa América passou longe do esperado e acabou sendo
coroado com a vergonhosa eliminação nas quartas de final para o Paraguai, em
que os brasileiros erraram todas as 4 cobranças de pênaltis.
Apenas
nos quatro amistosos antes das Olimpíadas – contra Dinamarca, EUA, México e
Argentina-, Mano descobriu um time base que poderia funcionar em Londres ou até
mesmo na Copa do Mundo: Marcelo, Alex Sandro, Thiago Silva, David Luiz, Daniel
Alves, Danilo, Sandro, Oscar, Ganso, Neymar, Hulk, Pato, Lucas e Damião, são
jogadores que certamente podem ser utilizados mais adiante. Nas Olimpíadas,
usando aquela que poderia ser a base da seleção principal, o Brasil conseguiu
chegar à final. Ao ter acertado um time, Mano deu um passo importante e
definitivo em seu trabalho. Ter chegado ao objetivo da Final Olímpica também
foi muito importante em sua trajetória. Mas nem isso, ou até mesmo a possível
conquista do inédito ouro olímpico, afasta o seu risco no cargo.
O
treinador, que teve recentes passagens vitoriosas em clubes como Grêmio e
Corinthians, não conseguiu dar um padrão de Jogo à seleção. Demorou demais até
definir seus jogadores. Não teve atuações seguras e convincentes nem contra
Egito, Honduras e Coréia do Sul, que dirá contra uma grande seleção como
Alemanha, França e Argentina. Com ele no comando podemos imaginar um time para
2014 com Diego Alves (Júlio César ou um garoto que se firme como Gabriel, Neto
ou Renan Ribeiro); Daniel Alves (Danilo); Thiago Silva (Bruno Uvini, Juan ou
até mesmo Réver); David Luiz (Dedé); Marcelo (Alex Sandro); Lucas Leiva (Sandro
ou Ralf); Ramires (Hernanes ou Paulinho); Oscar (Ganso); Neymar (Jonas);
Leandro Damião (Alexandre Pato); Hulk (Lucas Moura).
Não sei
até que ponto o projeto de seleção de Mano é confiável na visão dos brasileiros
e até mesmo da CBF. Sou até capaz de apostar que ele não dura muito no cargo. O
técnico da nossa seleção deixa transparecer nas suas decisões um misto de
despreparo e falta de convicção. Quando ele parece estar convencido de uma
solução, descarta-a. Nesse quesito cabem os episódios de falta de sequência a
jogadores que tiveram boas apresentações no time. Pode ser citado até mesmo o
caso de Hulk, que foi convocado para as Olimpíadas como um dos jogadores acima
de 23 anos, aquele que seria o cara para chamar a responsabilidade no ataque
brasileiro e impor respeito e experiência frente aos demais times olímpicos.
Sendo colocado no banco na partida decisiva de semi-final do torneio para a entrada
de Alex Sandro no meio campo, Hulk deixa de ser uma das principais armas do
time.
Mano
parece passar aos seus jogadores toda a sua insegurança, confusão de ideias e
falta de experiência. O time dá impressão de que não assimila o que o técnico
pretende passar, acho que nem ele tem certeza do que daria consistência ao
time. Mesmo com o ouro olímpico, acredito que a seleção tenha mais mudanças
pela frente. A quase dois anos da Copa, há a convicção de muitas pessoas
ligadas ao futebol de que ainda dá para recuperar o tempo perdido e fazer uma
boa apresentação, mas a troca de treinador não pode demorar a ser feita. O
Ciclo Mano Menezes não deve resistir e parece estar próximo do fim.
Ainda
arrisco que Muricy Ramalho seria o próximo nome. Saberemos.
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